segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Tempestades e furacões


Resolvi aparecer aqui para desabafar porque vejo amigos fazendo isso em seus blogs e sei que escrever não resolve as coisas, mas alivia um pouco o coração.

Tenho vontade de gritar e sair correndo, mas não posso. Houve um tempo em que podia sonhar, em que acreditava, de verdade, naqueles dias felizes de comercial de margarina. E li “O Segredo” e vários outros livros que dizem que os problemas podem acabar e tudo vai ficar bem. Sabe, não sei mais se acredito. Recordo-me de uma conversa recente, por e-mail, com minha querida amiga Vanessa, sobre este assunto. Van, querida, como disse antes, acho que seu raciocínio faz sentido. O sol pode brilhar pra muita gente, mas há nuvens em outros lugares, tempestades e furacões.

Quando a gente é adolescente, acha que tem todo o tempo do mundo e pode dar mancada, meter os pés pelas mãos, que logo tudo irá passar e seremos perdoados por nossos erros. Erro de adolescente nem chega a ser considerado “Erro”, com “e” maiúsculo, pois nesta fase ainda estamos aprendendo, conhecendo, explorando limites. Mas, como o tempo não para, a vida segue seu curso e, um dia, olhamos no espelho e nos deparamos com um adulto chato, cansado, que foi deixando cair pela estrada da vida boa parte dos sonhos, que já não sorri mais com tanta facilidade, não acha graça das piadas bobas e sem a menor graça. Vemos diante de nós o adulto que nos tornamos e que jamais quisemos ser.

Por falar nessa época, de sonhos doces e grandes ideais, de energia inesgotável e a vontade de mudar o mundo, lembro-me do quanto eu era destemida. E isso era assustador, sobretudo para os meus pais. Hoje não sou mais assim e juro que faria o que fosse necessário para resgatar essa Cris, se ela pudesse ser resgatada. Vejo o meu medo também nos meus amigos, que lutam por um lugar ao sol, que ralam nesse país escroto de m_rda e não conseguem colher o fruto de seus trabalhos. Alguns deles, os mais amados e mais chegados, também estão cansados e eu adoraria fazer uma mágica para aliviar o peso de suas costas.

Eu queria pintar uma tela, a tela da realidade, da realidade que, em algum lugar do meu coração, ainda espero viver. Uma realidade onde poderia viver segura e tranquila, com meu John-John e com nosso filho.

Não conheço pessoas que não foram marcadas pela vida e seus dissabores, pela educação dos pais (que, por mais que tentassem fizer o melhor que podiam, erraram, feriram) e por suas próprias experiências. Algumas delas criaram um escudo ou uma carapaça para seguir em frente; outras usam máscaras; outras seguem apoiadas em muletas como o álcool, as drogas e o fanatismo religioso; e há outras que andam por aí, como zumbis, sangrando em agonia.

Eu quase me prometi não escrever mais coisas tristes no Cílios, mas cansei dessa coisa de “happy end”, de solzinho brilhando lá fora, de “tudo passa, tudo vai ficar bem”... A vida exige uma trilha sonora visceral, repleta de guitarras distorcidas, de gritos e urros, com uma bateria pesada de fundo, em completa desarmonia. E pedindo licença ao meu querido amigo-irmão Demétrius, faço dele minhas palavras: “É apenas o que eu acho”.

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